domingo, 9 de novembro de 2008

Como é facil anunciar o que fazer com o dinheiro dos outros!

Vem esta mensagem para comentar a nacionalização do BPN.

Tudo isto merece um comentário, mas não tão a quente, como alguns comentários que tenho visto por aí.

Temos um banco que, pelos vistos, toda a gente, à boca pequena, sabia que estava com problemas. A questão atinge demasiada gravidade, quando vejo (e ouço) jornalistas com a responsabilidade de Ricardo Costa (director da SIC Noticias) que nem sequer é um jornalista especialista em noticias económicas, a dizer que "toda a gente sabia à muito" que este banco estava em dificuldades. Eu, que considero-me gente, e até sou uma pessoa atenta a este tipo de noticias, de nada sabia. Ou seja, quem devia ter informado, não informou! A única noticia desfavorável para o BPN, que tinha saído antes do dia anterior à da nacionalização, foi que este banco estava a ser investigado no âmbito da "Operação Furacão", em conjunto com mais 3 bancos privados. Será que estes bancos também estarão em dificuldades?

Temos um regulador que é apanhado pela 2ª vez a meter agua. Muito sinceramente, acho que algo deve ser mudado no Banco de Portugal, ou as suas competências, ou o seu modus operandi, ou, mesmo, a pessoa do seu governador (pode ter sido um erro de casting). Ainda por cima, deixa que a administração de Miguel Cadilhe assuma o controlo do BPN, não o avisando que o Banco de Portugal já tinha interposto uma série de processos de investigação ao BPN por suspeitas de irregularidades graves. Para já não falar de que trata-se do homem que, aqui à uns anos, recomendou uma baixa dos salários das pessoas enquanto aumentava o seu salário e dos seus companheiros de administração do Banco de Portugal, para alem doutras regalias ...

Temos um governo que, desta vez, aparentemente, foi contra a sua ideologia. O PS (inclusivamente este nosso PM), depois do PREC, fartou-se de falar contra as nacionalizações, mas agora faz uma sem dar dados muito pormenorizados a ninguém. Não sei se já repararam, mas muita gente do PSD tem dito que, com os dados que têm, o governo parece ter tomado a decisão certa. Isto é uma forma de, no futuro, sentirem-se livres de criticar tal decisão, pois não tinham os dados todos. Se isto fosse tratado com lisura pelo PSD, simplesmente não emitiam opinião enquanto não tivessem os dados todos. Acontece que não podiam lidar com isto com lisura, pois têm o rabo preso (não podemos esquecer a quantidade de gente do PSD que passou pelos órgãos sociais deste grupo, dos quais o único a sair razoavelmente bem é o morador das Amoreiras, a pessoa que usou camiões da então Guarda Fiscal para fazer as mudanças para as Amoreiras, Prof. Miguel Cadilhe)
E o que dizer da reveladora intervenção do nosso ministro das finanças na Assembleia da Republica (com o quadro de D. Carlos I por cima da cabeça, o que é muito estranho numa Republica), virado para a bancada do CDS, a dizer que era, dos presentes, o que mais trabalhou na vida para o bom funcionamento dos mercados? Não é por nada que lhe chamam o "Teixeira dos Bancos".

Se eu estava desconfiado das intenções do governo, com esta declaração percebi o seguinte:

  1. O governo nacionalizou o banco porque quer safar os prejuízos gerados pelo que, à luz do Código das Sociedades Comerciais, designa-se de "gestão danosa" do banco.
  2. Ao governo não deu nenhuma "febre nacionalizadora", nem iremos ter com estes no poder nenhum 12 de Março de 1975, pois, se fosse esse o caso, o governo teria nacionalizado todo o grupo empresarial liderado pela Sociedade Lusa de Negócios (onde só o BPN estava em maus lençóis).
  3. O governo ainda mantém no Orçamento de Estado para 2009 a intenção de privatizar uma série de empresas publicas que têm dado lucro.
  4. Nenhum dos membros dos órgãos sociais envolvidos nos anos das falcatruas será judicialmente responsabilizado pelos prejuízos causados, ou seja, não irão ser eles a pagar os prejuízos.
Sendo assim, quem vai pagar esta "gestão danosa" serão os contribuintes portugueses (mesmo os que, como eu, não têm nada neste banco). E a factura será mais elevada que os 700.000.000 € falados quer pelo governo, quer pelo Banco de Portugal, pois basta ver que só a Caixa Geral de Depósitos terá já enterrado neste banco mais do que isso em empréstimos, para além de que vai ter, no futuro, de aumentar o capital social (mais uma vez).

No fundo, o PCP tem razão. "NACIONALIZAM-SE OS PREJUÍZOS, PRIVATIZAM-SE OS LUCROS".

Como é fácil anunciar o que fazer com o dinheiro dos outros! Ou será que, se o dinheiro em causa fosse só dos membros do governo, eles fariam as coisas assim?



Sem comentários: