Há dias, vi uma noticia a dizer que 35% dos portugueses que estão abaixo do limiar da pobreza estão empregados, ou têm regularmente trabalho.
Esse é um fenómeno novo, pois, até agora, só quem não tinha trabalho é que estava abaixo do limiar da pobreza.
As reacções que vi a esta noticia vão todas no sentido de condenar os baixos salários dos que trabalham em Portugal.
Esse argumento é verdadeiro, mas, quanto a mim, não explica tudo. É que a riqueza mede-se na poupança, e não nos rendimentos. E o que influencia, positivamente, a poupança, não é só ganhar mais, mas também gastar menos.
E a solução encontrada por esses "pensadores" é só aumentar os salários.
Quantos casos não há de pessoas que, na hora de comprar bens como a TV de Alta Definição, o telemóvel
XPTO, e outros bens que não entram no cabaz de produtos essenciais, não fizeram as contas, nem pensaram no futuro?
Ouço falar de imensos casos desses, a grande maioria na classe média-baixa e classe baixa, precisamente os visados por tal artigo.
Isso
também não explica tudo, pois acontece que o crédito bancário mal-parado (empréstimos pedidos aos bancos cujas prestações não foram pagas) tem aumentado muito. Trata-se duma das primeiras dívidas que estas pessoas "com a corda na garganta" deixam de pagar. Logo, segundo essas pessoas que reagiram à noticia da maneira a que aludi, já nem se trata disso, mas, sim, de cortar em bens essenciais, como comida, por exemplo.
Mas não começou tudo por aí? Em gastar o ordenado em coisas
supérfluas, ainda por cima importadas? Ou seja, lá foi o dinheiro a voar para o estrangeiro ... Culpam os bancos por isso, mas nunca vi
ninguém assinar um contrato de empréstimo obrigado, nem os bancos impedem que os seus clientes façam as contas ou deixem de ler todo o contrato. Lá que são chatos, são, mas os clientes têm boas medidas contra, nomeadamente desligar-lhes o telefone na cara, não assistir a publicidade (RTP2 e as rádios da RDP dão uma grande ajuda), etc ...
Também o facto dos trabalhadores que trabalham em Portugal não terem o habito de ir para os grandes centros comerciais sem listas de compras não ajuda nada à poupança. É só botar para o carrinho, se não houver saldo no banco, pagamos com o cartão de crédito, nada de contas nem de preocupações, tudo "
prá frentex".
Tudo isto são factos que
contribuíram para esta situação. Em nenhuma delas há culpas a
assacar ao governo, nem, sequer ao vizinho do lado. Em qualquer uma destas situações, a culpa é, em ultimo caso, toda de cada uma das pessoas em causa.
Já o mesmo não acontece com a recente alta dos preços, que foi provocada pela enorme subida do preço dos combustíveis e pelos especulativos preços dos cereais. Aí, os governos têm de acabar com esta pouca vergonha, sob pena de serem arrancados do poleiro por tumultos que evoluirão para revoluções sociais. Mas esta crise é só uma grande onda que vem cobrir de água o afogado.
É certo que, se os salários forem aumentados, as pessoas irão usar o aumento para pagar as dívidas, começando pelas essenciais. No entanto, depois de se habituarem ao salário aumentado, lá voltam a gastar, desta vez ainda mais dinheiro, nas mesmas coisas
supérfluas, assim voltando ao mesmo.
Os trabalhadores que trabalham em Portugal, na sua grande maioria, actualmente, não têm margem de manobra para poupar. Mas, mesmo que pudessem, desconfio imenso que não saberiam poupar, pois essa noção é tratada pela sociedade como "ultrapassada" e "do tempo dos nossos avós", ou seja, poupar não está na moda.
E, ao gastar, vão continuar a gastar em produtos importados, precisamente aqueles que não dão emprego a nenhum residente em território nacional.
Para muitos, sempre foi chapa ganha, chapa gasta.
NÃO HÁ MI-LA-
GRES!