quinta-feira, 3 de julho de 2008

Os gays e Ferreira Leite

Estou acostumado a escrever aqui acerca de assuntos que penso serem de interesse muito para além do imediato. Hoje, cá vai mais um, embora a dimensão do seu interesse não seja imediatamente visivel.

Na sua última entrevista à TVI, Manuela Ferreira Leite afirmou-se contra o casamento entre homosexuais, sem que a entrevistadora tenha insistido muito na pergunta. Acontece que, na interpretação que foi feita dessas declarações por alguns deputados à Assembleia da Republica, a actual presidente do PSD estava-se ao referir meramente ao nome, não se opondo à união entre homosexuais reconhecida pelo Estado, desde que com outro nome.

Esta questão, muito embora possa ser encarada como um "fait-diver", é importante para a vida de muitas pessoas, especialmente para as pessoas visadas e seus familiares, para além de acabar com uma hipocrisia que é o Estado não reconhecer a união entre homosexuais, mas o Fisco (mais um aspecto em que este aparece como um Estado dentro do Estado) permita receber declarações conjuntas de rendimentos (Modelo 3 do IRS) de 2 pessoas do mesmo sexo. O mesmo se passa com os estrangeiros declarados como ilegais por não terem autorização de residência em território nacional, mas que são obrigados a pagar impostos e segurança social, mas isso é outra estória ...

Se Manuela Ferreira Leite quiz mesmo dizer o que aqueles deputados pensam, acaba por estar a entrar numa hipocrisia ainda maior, pois acaba por ter medo do nome. Ou seja, o pensamento será "eles devem ter a sua união reconhecida pelo Estado, mas não se deve chamar 'casamento' pois Deus e a Igreja Católica (entre outros) iriam boicotar a minha vida enquanto líder do PSD". No entanto, e como não se chama casamento, provavelmente não teria os mesmos benefícios que tem a instituição "casamento", nomeadamente o cônjuge (não sei se poderei chamar assim) viúvo (ou viúva, não sei) não contar para efeitos da quota legítima no direito sucessório, nem para receber a pensão de vida do falecido (ou falecida, conforme os casos), entre outras situações ...

Desta vez, e em virtude de tudo isto, apetece-me gritar:

HI-PO-CRI-SI-AS!

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